O discurso: epopéia de minha vida

quarta-feira, agosto 03, 2005

A realidade unificada.

O assunto sobre o qual vou tratar gira em torno do livro 1984 de George Orwell. A meu ver, o livro trata, sobre tudo o tema da alienação do individuo e do individuo para uma coletividade, assim, beneficiar alguns outros interesses é o significado que mais produzi durante e depois da leitura de 1984. A alienação total, a imersão em realidade construída por um partido, um Estado em guerra com outros países, visando não o dinheiro em sua materialização, e sim o poder, o poder total, ou como menciona o próprio texto DEUS É PODER e inversamente. Isto mudou meu olhar para a própria frase, cujo algumas vezes vi ‘adesivado’ em vidros de carros. A realidade é uma construção mental individual do sujeito para a materialização objetiva, assim sendo, ela pode ser alterada por influência de outro individuo, deste modo se constrói a alienação. Ter a realidade objetiva modificada para favorecer outrem não me parece uma prática utópica, pelo contrário, uma prática atual de domínio sobre o ‘desejo’ do outro, de modo que esse ‘desejo’, ‘ódio’ ou ‘vontade’ favoreça um outro individuo ou grupo. Hoje, isto é possível e praticável de modo enfático e mais fácil do que anos atrás, pois hoje se pode apoiar na tecnologia e utiliza-la para os próprios fins, ou seja, a televisão trabalha muito na construção da realidade dos indivíduos, o rádio, a internet e a globalização ou mistura das culturas entre nações pelo encurtamento das distâncias e dos fatos, das guerras, das noticias serem de conhecimento de todos quase que simultaneamente ao período em que ocorre, como uma filmagem, sensacionalista e deturpada da realidade, que muitas vezes não é a mesma do tele-espectador. Ligar a televisão e ver guerras, mortes e tantas outras atrocidades é hoje um ato quase que indiferente, as filmadoras captam as imagens e transmitem quase que simultaneamente os fatos como num teatro, a ação e os espectadores. Mas não são apenas as guerras as 'peças teatrais' do nosso tempo, há também a privacidade exposta, por meio de chamados 'reality shows'. O sujeito vê o outro em tempo também quase que simultâneo, vê suas necessidades e carências, julga, opina e modifica seu olhar sobre o individuo filmado, inversamente pode se notar que o próprio espectador age como reação de deleite em se expor através da internet, expõem suas vontades, seu íntimo, seus problemas e suas carências, isto é, entre outros fatores que não mencionarei neste texto, uma reação a imersão na realidade alheia, ou seja, uma forma de imitação, que acarreta em sentimentos positivos ao 'ator', e pode servir como terapia a muitos. Claro, a tecnologia em si não é necessariamente má, entretanto, utilizada de maneira a favorecer sempre o desejo alheio, torna-se a arma mais poderosa de nossa atualidade. Coloquemos em questão a atração do individuo e dele para a comunidade em relação aos meios de alienação. Estes são como iscas, prontas a fisgar o individuo em seu momento de fraqueza, o individuo por sua vez, utiliza os meios de comunicação de massa para sua distração e entretenimento, mas muitas vezes não sabe que é atingido por uma explosão de incitações a realidade alheia, sem questionar a realidade e a ficção, o sujeito torna o mundo em que foi imerso em seu próprio mundo alterando drasticamente a realidade em favor do seu criador. O livro 1984 abrange este tema com grande sabedoria, elucidando ao leitor que é possível assumir, não enganosamente, que 2 + 2= 5 e não 4, mas que é possível crer piamente que de fato é 5. A principio parece difícil de compreender, mas realmente a mudança da realidade, na maneira como mostra George Orwell sugere que um grupo dominante faz isso com a sociedade inferior a ele, e sucessivamente um grupo superior a um inferior. A dor física, o martírio, a degeneração do corpo são os meios utilizados para atingir uma alienação em sua fase rebelde, ou seja, quando o individuo persiste em refletir. A reflexão é a grande inimiga da alienação, a mudança de comportamento frente à realidade deturpada é condenada não apenas pelos órgãos de alienação como também pela própria sociedade que insiste em expor o diferente, neste estágio, ‘refletir’ é realmente errado denunciado e exposto como ridículo pelos membros da sociedade, enquanto é encarado como ‘crime’ pelas instituições opressoras. ‘Refletir’ é o que leva a personagem principal da história, Winston, à prisão em uma instituição de ‘reabilitação social da mente’, Winston começou a refletir e assim fazendo mostrava que se diferenciava dos outros alienados, representando uma ameaça ao partido. Winston retrata algo intrínseco em nós, a capacidade de se questionar, 'de onde vem', 'como' e 'por que', perguntas filosóficas. Essa capacidade de questionamento autônomo, de reflexão, infelizmente é quase completamente apagada em alguns de nós, deixando o individuo a deriva do que o outro quer, em estado de profunda alienação, “ignorância é força” é o lema do partido na história. No livro o Estado usa como meio de alienação, também o controle do passado e do futuro, previsões feitas pelo Grande Irmão (a imagem que materializa o órgão opressor), apagamento e esquecimento total do passado, sendo tudo a todo momento revisado de forma a favorecer o partido. Isto também não parece utópico, a realidade vista através dos livros e do meio de comunicação de massa é infestada de favoritismo, ao interesse do órgão ‘veiculador’ da mensagem, ou seja, é óbvio que ‘o autor sempre tem uma intenção no que diz, a intenção é passar a mensagem que deseja’, esta mensagem visa uma mudança no estado do outro e no seu próprio.
Sem demoras, finalizo esta reflexão e analogia com nossa vida contemporânea, no qual relacionei o livro 1984 com minha visão e expressão da realidade subjetiva e objetiva.

GUERRA É PAZ
LIBERDADE É ESCRAVIDÃO
IGNORÂNCIA É FORÇA
(do livro 1984, George Orwell)
Rafael, 5:30 PM

1 Comments:

Gostei do seu texto. Uma bela exposição do nosso mundo ao relacioná-lo ao livro. Sem dúvida o homem é um SER que necessita de respostas sustamente por ser um SER diferente, um SER pensante. Quem sou? De onde vim? Para onde vou? e outras tantas perguntas que, como vem fico demonstrado, muitas vezes são respondindas por outros enquanto o SER fica alienado e não se dá ao trabalho de pensar, de refletir. Ou seja, esse trabalho de pensar e refletir só é permitido a uma instituição ou à determinadas pessoas.

Em Semiótica iremos estudar isso: essa necessidade que o homem tem de construir símbolos para pensar, comunicar seus pensamentos e etc, etc, etc...
Anonymous Anônimo, at 12:35 AM  

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